ISSN-Online: 2236-6814

https://doi.org/10.25060/residpediatr



Fique Alerta! - Ano 2014 - Volume 4 - Número 1

Sarampo

Sarampión


Organização: Gil Simões Batista1
Autores: Marcia Galdino2

Neste número da Seção Fique Alerta, indicamos a nota técnica do Ministério da Saúde sobre a situação do sarampo e ações desenvolvidas no Brasil em 2013 e 2014.

O sarampo é uma doença de notificação compulsória desde 1968 no Brasil. O país enfrentou várias epidemias nas décadas de 70, 80 e 90, com elevada morbidade e mortalidade infantil nesse período. Porém, após a implantação do Plano de Erradicação do Sarampo, em 1999, houve redução do número de casos autóctones confirmados e, em 2000, foi registrado o último caso de sarampo autóctone no Brasil. Em 2013, houve aumento do número de casos, principalmente em Pernambuco, com "transmissão sustentada" do vírus na população.

É importante que o profissional de saúde esteja alerta para os casos de pacientes com febre, sintomas catarrais e exantema, sendo a definição de caso suspeito: "Todo paciente que, independentemente da idade e da situação vacinal, apresentar febre e exantema acompanhados de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: tosse e/ou coriza e/ou conjuntivite."




INFORME TÉCNICO

Assunto: Alerta sobre a situação do sarampo e ações desenvolvidas - Brasil, 2013 e 2014.


1. O sarampo é uma doença infecciosa exantemática aguda, transmissível e extremamente contagiosa, podendo ser grave, evoluir com complicações infecciosas e óbito, particularmente em crianças desnutridas e menores de um ano de idade.

2. A transmissão ocorre de pessoa a pessoa, por meio de secreções respiratórias, no período de quatro a seis dias antes do aparecimento do exantema até quatro dias após.

3. O Brasil registrou os últimos casos autóctones de sarampo em 2000. Desde então, devido às altas coberturas vacinais e elevada sensibilidade da vigilância epidemiológica, apenas casos importados da doença foram detectados no país.

4. Em 2013, foram confirmados 171 casos de sarampo nos seguintes estados: São Paulo (5), Minas Gerais (2), Espírito Santo (1), Pernambuco (152), Santa Catarina (1), Paraíba (9) e Distrito Federal (1). Os genótipos identificados encontram-se relacionados na Tabela 1.




5. Em todos os estados, as cadeias de transmissão foram limitadas e extintas há mais de 90 dias, com exceção de Pernambuco, onde ainda se mantém a transmissão. O surto que se iniciou em 10/03/2013 apresenta as seguintes características:

  • Dos 152 confirmados, 47% (71) são menores de um ano de idade;
  • Ocorreu um óbito de uma criança de sete meses, residente em Moreno/PE, portadora de comorbidade, com início do exantema em 03/06 e data do óbito em 11/06;
  • Ainda não foi identificado vínculo do caso índice com viajante;
  • As coberturas vacinais de rotina da tríplice viral em menores de um ano estão acima de 100% nesses municípios;
  • Dos casos confirmados, 98% (150) foram por critério laboratorial (IgM reagente e RT-PCR em tempo real positivo) e 2% (2) foram confirmados por vínculo epidemiológico;
  • Houve identificação viral em 100 casos e o genótipo detectado foi D8.

  • 6. Ações realizadas no estado:

  • Investigação dos casos suspeitos, bloqueio vacinal seletivo e busca ativa;
  • Atualização das cadernetas de vacinação;
  • Sensibilização dos profissionais de saúde do nível local;
  • Campanhas de intensificação da vacinação contra o sarampo em crianças de seis meses a cinco anos incompletos:

  • Seletiva, em 24 municípios, iniciada em 27/07/13;
  • Indiscriminada, em 16 municípios, iniciada em 30/11/13;
  • Indiscriminada, em 23 municípios, iniciada em 06/01/14.

  • Vacinação indiscriminada de toda população carcerária e profissionais em presídios onde houve casos.

  • 7. Em 5 de Janeiro de 2014, o Estado do Ceará também registrou um caso confirmado de sarampo. Até o momento, 11 casos foram confirmados naquele Estado, sendo todos residentes no município de Fortaleza (Tabela 2). Dez casos foram confirmados pelo critério laboratorial, IgM reagente para sarampo e RT-PCR positivo, e um caso por vínculo. Após investigação, identificou-se que as datas do início do exantema do primeiro e do último caso confirmado foram 25/12/2013 e 18/01/2014, respectivamente. Dos 11 confirmados, 55% (6/11) são menores de um ano de idade e ainda não foi identificado vínculo do caso índice com viajante. Dentre os confirmados, identificouse genótipo D8 em quatro amostras, idêntico ao genótipo circulante no surto em Pernambuco e em países europeus.




    8. Diante da ocorrência de casos confirmados nesses estados, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde recomenda que as secretarias estaduais de saúde alertem a todos os municípios e regionais em seu território sobre a situação atual do sarampo no país, enfatizando as medidas a serem adotadas diante da suspeita de sarampo:

  • Notificação imediata de todos os casos suspeitos, de acordo a seguinte definição: "todo paciente que, independentemente da idade e da situação vacinal apresentar febre e exantema maculopapular, acompanhados de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: tosse, coriza ou conjuntivite".
  • Maior atenção deve ser dada a todo indivíduo suspeito com história de viagem ao exterior nos últimos 30 dias ou que tenha tido contato, no mesmo período, com alguém que viajou ao exterior.
  • Orientação quanto ao isolamento domiciliar ou hospitalar do caso suspeito até o final do período de transmissibilidade (quatro dias após o início do exantema);
  • Coleta de amostras clínicas para sorologia e identificação viral, no momento do primeiro atendimento, e encaminhamento ao laboratório de referência, segundo fluxo de cada estado;
  • Bloqueio vacinal dos contatos em até 72 horas e monitoramento de contatos por até 21 dias;
  • Investigação dos casos quanto às possíveis fontes de infecção;
  • Busca retrospectiva de casos em prontuários de hospitais e laboratórios públicos e privados;
  • Atualização de cartão de vacinação;
  • Elaboração e divulgação de informação sobre a situação epidemiológica por meio de notas técnicas, relatórios e informes epidemiológicos.

  • Brasília, 03 de fevereiro de 2014.

    José Ricardo Pio Marins
    Coordenador Geral de Doenças Transmissíveis
    DEVIT/SVS/MS

    Claúdio Maierovich
    Diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis
    SVS/MS

    Jarbas Barbosa
    Secretário de Vigilância em Saúde
    Ministério da Saúde
    OBS. Excepcionalmente colocamos o informe técnico do Ministério da Saúde do Brasil na íntegra e não apenas o link para o documento.










    1. Chefe do Serviço de Pediatria do Hospital Federal dos Servidores do Estado - RJ
    2. Pediatra. Infectologista Pediátrica. Hospital Federal dos Servidores do Estado - MS/RJ. Mestre em Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias)/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)