Relato de Caso
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Ano 2022 -
Volume 12 -
Número
1
Transmissão vertical COVID-19: relato de caso no Hospital São Vicente de Paulo
Vertical transmission Covid-19: Case report in Hospital São Vicente de Paulo
Simone Beder Reis1; Laura Werle Dalpasquali1; Gabriel Oliveira Weber1; Cristiane Agostini Cassanelo2; Alessandra Do Amaral Belina2
RESUMO
A COVID-19 é uma síndrome respiratória aguda grave do novo coronavírus (SARS-CoV-2) que surgiu na China no início de dezembro de 2019. O vírus espalhou-se rapidamente, causando uma pandemia global. O conhecimento adquirido durante a pandemia, sugere que mulheres grávidas e seus fetos são particularmente susceptíveis a maus resultados. Até o momento, o conhecimento atual sobre a infecção por coronavírus (SARS-CoV-2) na síndrome respiratória aguda grave neonatal é limitado. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de binômio mãe-bebê positivos para COVID-19 no Hospital São Vicente de Paulo, cujo protocolo de atendimento ao recém-nascido na CTI neonatal é o documento científico publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, com recomendações sobre os cuidados respiratórios do recém-nascido com COVID-19 suspeita ou confirmada. O diagnóstico laboratorial de coronavírus foi realizado pelo teste do PCR no neonato, sendo confirmado no seu 10º dia de vida. Concluiu-se que sua transmissão tenha sido vertical, não havendo evidências de transmissão horizontal devido ao rigoroso seguimento das medidas de segurança desde o nascimento até a alta hospitalar.
Palavras-chave:
Transmissão Vertical de Doença Infecciosa, Infecções por Coronavirus, Doenças do Recém-Nascido.
ABSTRACT
COVID-19 is a severe acute respiratory syndrome of the new coronavirus (SARS-CoV-2) that emerged in China in early December 2019. The virus has spread rapidly, causing a global pandemic. The knowledge gained during the pandemic suggests that pregnant women and their fetuses are particularly susceptible to poor outcomes. To date, current knowledge about coronavirus infection (SARS-CoV-2) in neonatal severe acute respiratory syndrome is limited. This paper aims to report a case of a mother-infant binomial positive for COVID-19 at Hospital São Vicente de Paulo, whose protocol for newborn care in the neonatal ICU is the scientific document published by the Brazilian Society of Pediatrics, with recommendations on the respiratory care of newborns with suspected or confirmed COVID-19. The laboratory diagnosis of coronavirus was performed by the PCR test in the neonate, being confirmed on the 10th day of life. It was concluded that its transmission was vertical, with no evidence of horizontal transmission due to strict compliance with safety measures from birth to hospital discharge.
Keywords:
Coronavirus Infections. Infant, Newborn, Diseases. Infectious Disease Transmission, Vertical.
INTRODUÇÃO
No final de 2019, foi identificado na província de Wuhan, na China, um novo coronavírus, nomeado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como COVID-19/SARS-CoV-21, que apresenta um espectro clínico que varia de infecções assintomáticas a quadros graves2.
A COVID-19 manifesta-se com sintomas iniciais febre (98%), tosse (76%) e mialgia ou fadiga (44%); sintomas menos comuns foram produção de escarro (28%), dor de cabeça (8%), hemoptise (5%) e diarreia (3%). Já como sintomas manifestados em torno do 8° dia de infecção, dispneia (55%) e a linfopenia (63%). Outro achado relevante foi a presença de pneumonia (100%) com achados anormais na TC do tórax3.
A transmissão vertical é a passagem de uma infecção ou doença da mãe para o recém-nascido. A transmissão vertical já foi confirmada para vários vírus e pode levar a consequências como aborto, restrição do crescimento fetal, prematuridade e nascimento de natimorto4,5. Este contágio pode acontecer das seguintes maneiras: durante a gestação (intrauterina); no trabalho de parto (pelo contato com as secreções cervicovaginais e sangue materno); através da amamentação e contato após o parto6.
O conhecimento adquirido com surtos anteriores de coronavírus humano sugere que mulheres grávidas e seus fetos são particularmente susceptíveis a maus resultados7. Artigos têm demonstrado que mulheres grávidas com COVID-19 versus sem COVID-19 têm maior probabilidade de ter parto prematuro e podem ter um risco aumentado de morte materna e de serem admitidas na unidade de terapia intensiva. E seus bebês têm maior probabilidade de serem internados na unidade neonatal8.
Até o momento, poucos casos positivos confirmados neonatais de COVID-19 foram relatados em revistas científicas e a maioria se apresentavam assintomáticos ou com sintomas leves a moderados⁹. Algumas complicações neonatais descritas incluíram desconforto respiratório ou pneumonia (18%), baixo peso ao nascer (13%), erupção cutânea (3%), coagulação intravascular disseminada (3%), asfixia (2%) e 2 mortes perinatais10.
De acordo com Center for Disease Control and Prevention (CDC), os efeitos da doença na gravidez, a gravidade dos sintomas e complicações, assim como o possível risco de transmissão intrauterina ainda são informações escassas. O genoma da SARS-CoV-2 foi encontrado no sangue do cordão umbilical, além da mucosa vaginal e da placenta de mulheres grávidas11, e as evidências de transmissão vertical têm aumentado.
Por isso, é importante perceber as implicações imediatas da doença, mas também as implicações na evolução das grávidas que recuperam da doença e de seus recém-nascidos. Sendo fundamental, tal como defendido por outros autores12, que se reúna toda a informação sobre COVID-19 em grávidas, para que possamos aumentar o conhecimento sobre esta doença emergente.
RELATO DE CASO
Gestante, 26 anos, G1P1A0, realizou 7 consultas de pré-natal, sem comorbidades. Apresentando sorologias não reagentes para HIV, sífilis, rubéola, e hepatite B e imune (IgG reagente e IgM não reagente) para citomegalovírus e toxoplasmose. Relatou sintomas gripais no dia 14/07/2020. Realizou o exame de reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT-PCR) para o COVID-19, em swab nasal, no 7º dia de sintomas (21/07/20) com resultado detectável. A gestante recebeu duas doses de celestone. No dia 28/07/20 houve ruptura de membranas, indicando parto operatório no dia 01/08/2020.
Recém-nascido (RN) de 33 semanas + 2 dias, apresentação cefálica, líquido amniótico (LA) reduzido, sem mecônio, bolsa rota há 3 dias, nasceu vigoroso, com escore de Apgar 8/9 do primeiro e quinto minuto, respectivamente. O peso do nascimento foi 2.200 gramas, o comprimento 40cm e o perímetro cefálico de 32cm.
Após o nascimento foi encaminhado para o centro de tratamento intensivo neonatal (CTI neonatal). Iniciado suporte ventilatório CPAP 7/30% e ampicilina mais gentamicina, ficou em dieta nada por via oral (NPO) com sonda orogástrica aberta. Permaneceu em CPAP até o terceiro dia de vida onde foi substituído por oxigênio livre em incubadora, o qual permaneceu até o sétimo dia de vida, após mantida em ar ambiente. Permaneceu com tratamento para sepse neonatal precoce, sem meningite (coletado líquor com resultado normal), por alteração laboratorial e quadro clínico sugestivo devido a vômitos. Evoluiu, ainda, com hiperbilirrubinemia (bilirrubina total 12,7mg/dL) tratada com fototerapia. No quinto dia de vida, foi realizado o exame de reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT-PCR) para COVID-19, mantendo-se ainda em fototerapia, com melhor aceitação de dieta: uso exclusivo de fórmula infantil. No sexto dia de vida, foi trocado esquema de antibiótico por oxacilina e amicacina, devido à piora laboratorial. No sexto dia de vida, foi realizado ultrassom transfontanelar com resultado normal. No décimo dia de vida, suspensa a fototerapia, recebeu resultado do exame de PCR para o COVID-19: detectável (Figura 1). Alta da CTI neonatal no dia 15/08/20, após término do antibiótico. Alta hospitalar no dia 19/08/20 com 18 dias de vida, pesando 2,410 gramas de peso. O paciente encontra-se, no momento, com 1 ano e 2 meses (idade cronológica), hígido até o momento.
Figura 1. Exame de COVID-19 do recém-nascido
. RT-PCR para COVID-19, aspirado de nasofaringe coletado no dia 06/08/2020.
DISCUSSÃO
O caso relatado permite observar a possibilidade de transmissão de COVID-19 pela via vertical, uma vez que a mãe realizou o procedimento de transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT-PCR) onze (11) dias antes do parto, o qual foi positivo para o vírus. Além disso, a mãe ficou isolada do RN assim que nasceu até o dia da alta da CTI neonatal (15/08/20) o que contabiliza 30 dias do início dos sintomas da mãe. Feito o teste PCR no RN 05 dias após o parto (06/08/20) com resultado positivo para doença.
O Hospital São Vicente de Paulo instituiu o protocolo de atendimento ao RN na CTI neonatal baseado no documento científico publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, no dia 21 de março de 202013, com recomendações sobre os cuidados respiratórios do recém-nascido com COVID-19 suspeita ou confirmada. Diante disso, não há evidências de transmissão horizontal devido ao rígido seguimento das medidas de segurança desde o nascimento até a alta hospitalar: uso de equipamentos de proteção individual pela equipe da UTI neonatal, esterilização segura dos instrumentos cirúrgicos durante a cesárea e isolamento imediato entre a mãe e a criança. Ademais, a prematuridade e a rupreme corroboram a possibilidade da infecção do RN pelo coronavírus, podendo ser o motivo para tais complicações.
As medidas de precaução foram baseadas em documentos da Sociedade Brasileira de Pediatria, evidenciando a possibilidade de transmissão vertical, uma vez coletado o exame de RT-PCR do RN no quinto dia de vida, conforme protocolo institucional, método considerado padrão ouro para o diagnóstico de COVID-1914. Alguns estudos têm demonstrado que a transmissão vertical é possível e seus critérios de classificação são claramente propostos. Outros mostram que o potencial de transmissão vertical intrauterino da COVID-19 no primeiro e no segundo trimestres ainda é desconhecido. Nesse sentido, estudos de alta qualidade são primordialmente necessários para evidenciar claramente a possibilidade de transmissão vertical da COVID-19 e os riscos de repercussões da infecção grave em mulheres grávidas e seus conceptos16.
REFERÊNCIAS
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1. Universidade de Passo Fundo, - Passo Fundo - Rio Grande do Sul - Brasil
2. Hospital São Vicente de Paulo, UTI neonatal - Passo Fundo - Rio Grande do Sul - Brasil
Autor correspondente:
Laura Werle Dalpasquali
Universidade de Passo Fundo
Av. Brasil Leste, 285, São José, Passo Fundo,RS, Brasil
CEP: 99052-900
E-mail: 177315@upf.br
Data de Submissão: 25/05/2021
Data de Aprovación: 19/11/2021