ISSN-Online: 2236-6814

https://doi.org/10.25060/residpediatr



Editorial - Ano 2015 - Volume 5 - Número 1

Medicina baseada em evidências: o conhecimento sempre em construção

Medicina baseada em evidências: o conhecimento sempre em construção


A Medicina Baseada em Evidências (MBE) é definida como a aplicação consciente, explícita e cuidadosa da melhor evidência disponível na tomada de decisão sobre uma conduta a ser proposta a um paciente individual (Sackett, 1996). Sustenta-se no tripé formado pela integração da experiência do profissional, com as vontades e valores do paciente e a melhor evidência científica disponível.

Embora suas origens filosóficas remontem ao século XIX, ou mesmo antes, ainda hoje desperta interesse entre os profissionais envolvidos com a atividade assistencial, gerencial, de pesquisa e entre aqueles responsáveis pela elaboração de políticas de saúde.

Apesar do entusiasmo de muitos dos que ensinam e aplicam a MBE, esta também tem sido alvo de críticas. Atualmente, diversas pesquisas, cursos e workshops sobre o tema são oferecidos no mundo todo. Essas iniciativas têm contribuído para que alguns mitos sejam superados. Estudos demonstram que a ideia de que essa prática esteja restrita a um grupo de profissionais encastelados em condições privilegiadas de trabalho é equivocada (Ellis, 1995). A MBE tampouco pode ser considerada uma prática reducionista, um "livro de receitas" para o exercício da Medicina, tendo em vista que o tripé em que se baseia não pode se sustentar com o improviso. Depende diretamente do trabalho diligente dos interessados. Além disso, a MBE não se restringe aos estudos randomizados e de metanálise. Sua prática inclui a busca pela melhor evidência disponível. Isso significa que nem sempre esses são os estudos indicados para a pergunta que se deseja fazer. Além do mais, tais estudos podem ainda não estar disponíveis na literatura médica (Sackett, 1996). Portanto, o pesquisador e o pediatra não devem desconsiderar a elaboração e a leitura de nenhum tipo de estudo adequadamente conduzido. Eles sempre contribuem para a construção do conhecimento.

Algumas fragilidades, entretanto, ainda devem merecer nossa atenção. O entusiasmo pela busca da melhor evidência, como se verifica pela própria expressão, MBE, tem relegado a segundo plano a importância de ouvir e reconhecer o paciente em suas singularidades. Da mesma maneira, a habilidade e o conhecimento individual do médico podem não receber a necessária valorização. Essas atitudes não só comprometem o tripé de sustentação da MBE, mas, principalmente, põem em risco a boa prática médica. A forma como devemos incorporar os valores do paciente e a experiência profissional do médico ainda não estão suficientemente delineadas. A aplicação das evidências é mais claramente defensável. Mas como e quais critérios devem ser aplicados quando os valores do paciente, a experiência do médico e a melhor evidência apontam caminhos diferentes? Essas indagações devem ainda ser objeto de estudo para tornarmos a pesquisa uma ferramenta cada vez mais útil à prática diária.

Assim, apesar das antigas origens, a MBE é, ainda hoje, uma disciplina instigante, atual e em desenvolvimento. Nesse contexto, a Residência Pediátrica sugere aos leitores que conheçam o website da S4BE. Trata-se de uma iniciativa do Centro Cochrane do Reino Unido e apoiado por outras instituições como o Centro Cochrane Iberoamericano. Tem como objetivo a criação de uma comunidade de estudantes de todo o mundo, interessados no conhecimento sobre cuidados de saúde baseados em evidências. É uma excelente oportunidade de debate e para nos aperfeiçoarmos sobre o tema, de forma ágil e estimulante.

Para mais informações, siga o link: http://www.students4bestevidence.net/










Editoras adjuntas da Residência Pediátrica