Revisao - Ano 2024 - Volume 14 - Número 4
Resenha: Consenso Internacional dos critérios de Sepse Pediátrica e choque séptico
Summary: International Consensus Criteria for Pediatric Sepsis and Septic Shock
O consenso internacional dos critérios de sepse pediátrica e choque séptico (International Consensus Criteria for Pediatric Sepsis and Septic Shock) foi desenvolvido por uma força-tarefa constituída por 35 especialistas pediátricos (de medicina e enfermagem) em terapia intensiva, emergência e doenças infecciosas, de 12 países e 6 continentes, e foi realizado em três etapas — um estudo global (survey) com 2.835 profissionais da saúde, uma revisão sistemática e metanálise, e um estudo de derivação e validação baseado em 3 milhões de registros eletrônicos de atendimentos hospitalares de pacientes menores de 18 anos (excluindo prematuros menores de 37 semanas e recém-nascidos hospitalizados após o nascimento) de 10 locais em 4 continentes (incluindo países de baixa e média renda e alta renda). Um consenso de Delphi foi então empregado para desenvolver os critérios.
Foi utilizado como base da pesquisa 8 escores de disfunção orgânica previamente existentes, observando entre os sistemas orgânicos quais deles tinham maior capacidade de predizer a mortalidade hospitalar nas crianças com infecção. A partir daí, foram criados dois escores — um com 4 sistemas (cardiovascular, respiratório, neurológico e coagulação) e outro com 8 sistemas (os 4 anteriores, associados ao sistema renal, hepático, endocrinológico e imunológico), ambos demonstrando, posteriormente, performance semelhante. Pela maior simplicidade na aplicação, maior capacidade de disseminação e menor dependência de exames laboratoriais, o escore de apenas 4 sistemas foi utilizado para definir os chamados critérios de Phoenix (Tabela 1). A exclusão de outros sistemas, por exemplo, o renal e hepático, não exclui a importância deles no manejo dos pacientes.
Através do novo escore (escore de Phoenix), a sepse foi definida como uma infecção suspeita associada a 2 ou mais pontos. Já a definição de choque séptico é a sepse associada a 1 ou mais pontos no “sistema cardiovascular”. O termo “sepse grave” não deve ser mais utilizado, uma vez que sepse já é uma condição que impõe risco de vida, sendo, consequentemente, um quadro grave de saúde.
Comparativamente, o escore de Sepse de Phoenix demonstrou maior sensibilidade e valor preditivo positivo quando comparado aos critérios de 2005.
Os novos critérios de sepse e choque séptico têm como objetivo identificar disfunções orgânicas ameaçadoras à vida secundárias a infecções em crianças. Eles não foram desenvolvidos com o intuito de triagem de crianças em risco ou para a identificação precoce de sepse e/ou choque séptico.
O novo consenso reacendeu a necessidade de discussões sobre o tema. Isso é crucial, principalmente no que tange à criação de instrumentos de triagem para diagnóstico precoce da sepse e identificação de pacientes de risco, com objetivo de desenvolver intervenções precoces que poderiam reduzir a morbimortalidade associada à sepse pediátrica.
Os critérios de Phoenix têm o potencial de promover melhorias no atendimento ao paciente pediátrico séptico e na inclusão de pacientes em estudos clínicos, podendo favorecer novos avanços terapêuticos e, consequentemente, melhores desfechos clínicos.
Os autores finalizam o artigo ressaltando que há limitações no consenso, que incluem: a simplificação de um processo biológico complexo e heterogêneo; o uso de marcadores microbiológicos, que pode ser afetado pela disponibilidade de recursos e práticas locais; o uso do desfecho primário de óbito nas crianças com infecções, que apesar de mais objetivo, não pode ser considerado na avaliação de morbidade associada à infecção e não inclui efeitos a longo prazo para os pacientes e suas famílias; esses critérios não foram desenvolvidos para pacientes com infecções hospitalares, prematuros menores que 37 semanas de idade gestacional e recém-nascidos a termo que foram hospitalizados logo após o nascimento.
O uso dos critérios de Phoenix tem, portanto, o potencial de aprimorar os cuidados clínicos da sepse, sua avaliação epidemiológica e pesquisa clínica, podendo, futuramente, melhorar desfechos e reduzir a mortalidade relacionada à sepse pediátrica.
REFERÊNCIAS
1. Schlapbach LJ, Watson RS, Sorce LR, Argente AA, Menon K, Hall MW, et al. International Consensus Criteria for Pediatric Sepsis and Septic Shock. JAMA. 2024 Feb 27;331(8): 665-74. DOI: https://doi.org/10.1001/jama.2024.0179.
1. Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira - Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG-UFRJ), Residência Médica em Terapia Intensiva Pediátrica (em andamento) - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil
2. Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira - Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG-UFRJ), Residência Médica em Pediatria (em andamento) - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil
3. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Faculdade de Medicina - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil
4. Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira - Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG-UFRJ), Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil
5. Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira - Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG-UFRJ), Divisão de Ensino e Pesquisa - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil
Endereço para correspondência:
Vanessa Soares Lanziotti
Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira - Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG-UFRJ)
R. Bruno Lobo, 50 - Cidade Universitária
Rio de Janeiro - RJ, 21941-912
E-mail: vslanziotti@gmail.com; vslanziotti@ufrj.br
Data de Submissão: 29/07/2024
Data de Aprovação: 19/08/2024