TOP: Tópicos Obrigatórios em Pediatria - Ano 2012 - Volume 2 - Número 1
Segurança do paciente: adesão à higienização das mãos pelos profissionais de saúde, um grande desafio institucional
Segurança do paciente: adesão à higienização das mãos pelos profissionais de saúde, um grande desafio institucional
A atenção à segurança do paciente, envolvendo o tema "Higienização das Mãos" tem sido tratada como prioridade, a exemplo da "Aliança Mundial para Segurança do Paciente", iniciativa da Organização Mundial de Saúde (OMS). A criação dessa aliança realça o fato de que a segurança do paciente é reconhecida como uma questão global. As mãos são consideradas ferramentas principais dos profissionais que atuam nos serviços de saúde, pois são as executoras das atividades realizadas. Assim, a segurança do paciente nesses serviços depende da higienização cuidadosa e freqüente das mãos destes profissionais.
As mãos constituem a principal via de transmissão de microrganismos durante a assistência prestada aos pacientes, pois a pele é um possível reservatório de diversos microrganismos, que podem se transferir de um paciente para outro por contato direto (pele com pele), ou indireto, através do contato com superfícies ou objetos contaminados.
Historicamente, o médico húngaro Ignaz Philipe Semmelweis, em 1847, foi precursor na observação sistemática de um evento sentinela (mortes por infecção puerperal) instituindo a lavagem das mãos da sua equipe com água clorada como medida de controle, que posteriormente demonstrou drástica redução nas taxas de mortalidade puerperal, na época.
A partir de então, vários processos têm sido desenvolvidos no intuito de prevenir a contaminação dos pacientes pelo contato manual dos profissionais, aliado à produção de soluções industrializadas que procuram melhorar a adesão à higienização das mãos durante a assistência à saúde.
O conceito de lavagem das mãos foi ampliado recentemente para o termo higienização das mãos que engloba a higienização simples, a higienização antisséptica, a fricção antisséptica e a antissepsia cirúrgica das mãos.
A higienização simples das mãos é realizada com água e sabão líquido (sem agente antisséptico), a higienização antisséptica com produtos degermantes a base de Polivinilpirrolidona- iodo (PVPI-10%) ou digluconato de clorexidina 2-4%, a fricção antisséptica com preparações alcoólicas (álcool gel ou glicerinado a 70%) e a antissepsia cirúrgica com esponjaescova embebida em solução degermante.
A higienização simples das mãos tem objetivo de remover os microrganismos que colonizam as camadas superficiais da pele, assim como o suor, a oleosidade e as células mortas, retirando a sujidade propícia à permanência e à proliferação de microrganismos. Deve ter duração de 40 a 60 segundos. Para tal, devem ser providos locais com pias exclusivas para lavagem das mãos com adequado suprimento de sabonete líquido e papel toalha de boa qualidade.
A fricção das mãos com preparações alcoólicas deve ter duração de 20 a 30 segundos, sendo efetiva para redução da carga microbiana das mãos. A sua utilização pode substituir a higienização com água e sabão, desde que não haja presença de sujidade aparente.
É importante ressaltar que durante a assistência ao paciente, a retirada de anéis, pulseiras, relógio e outros adereços deve preceder qualquer técnica de higienização das mãos. A presença destes dificulta a realização da técnica correta.
Ainda no contexto do desafio global, a OMS preconiza os cinco (5) principais momentos da assistência ao paciente, para os quais o profissional de saúde deverá higienizar, impreterivelmente, as suas mãos. São estes:
1- Antes do contato com o paciente;
2- Antes de procedimentos assépticos;
3- Após o risco de exposição a líquidos corporais;
4- Após o contato com o paciente e
5- Após o contato com itens da unidade do paciente (Figura 1).
Figura 1. Momentos indicados para higienização das mãos.
Apesar do conhecimento adquirido ao longo do tempo, os trabalhos científicos têm comprovado que a adesão às técnicas de higienização das mãos pelos profissionais de saúde está distante das necessidades, principalmente frente ao cenário atual com o aumento da prevalência de infecções por microrganismos multirresistentes.
Neste contexto, a OMS tem direcionado importantes esforços para elaborar diretrizes e estratégias para a implantação de medidas visando a adesão dos profissionais de saúde às práticas de higienização das mãos, além do desenvolvimento de várias técnicas de antissepsia.
A higienização das mãos tem sido preconizada como uma das mais importantes medidas para prevenção e controle das infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) . O uso de preparados alcoólicos e a higienização simples das mãos, quando utilizados com a técnica recomendada (Figura 2), são valiosos aliados na luta contra a disseminação de microrganismos no ambiente hospitalar.
Figura 2. Técnica de higienização das mãos.
As formulações alcoólicas são uma excelente alternativa quando não há número adequado de pias para atender à crescente necessidade de incorporação da prática, pois têm vantagens como o menor tempo para aplicação e menos irritante para a pele, além da facilidade de instalação de dispensadores em qualquer área do serviço de saúde.
A higienização das mãos com álcool gel ou álcool glicerinado a 70%, deve ser realizada friccionando-se as mãos secas e o produto deve ser distribuído por todas as superfícies incluindo os punhos até sua completa absorção.
Portanto, todos os esforços para a melhoria das condições estruturais e a conscientização dos profissionais de saúde são essenciais para a adesão à higienização das mãos, melhorando a qualidade da assistência prestada, assim como a segurança dos pacientes.
Para maior conhecimento sobre higienização das mãos, sugerimos acesso aos links à seguir:
1. Segurança do paciente- Higienização das mãos, ANVISA: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/manuais/paciente_hig_maos.pdf
2. WHO Guidelines on Hand Hygiene in Health Care: http://whqlibdoc.who.int/publications/2009/9789241597906_ eng.pdf
3. A Guide to the implementation of the WHO multimodal hand hygiene improvement strategy: http://whqlibdoc.who.int/hq/2009/WHO_IER_ PSP_2009.02_eng.pdf
4. Hand Hygiene in Healthcare Settings, CDC: http://www.cdc.gov/mmwr/PDF/rr/rr5116.pdf
1. Médica da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE).
2. Médico Chefe do Serviço de Pediatria/ HFSE.
3. Enfermeira da CCIH/HFSE.