ISSN-Online: 2236-6814

https://doi.org/10.25060/residpediatr



Ponto de Vista - Ano 2013 - Volume 3 - Número 1

O adolescente e o álcool - essa dupla não é legal

Adolescent and alchool; this duo is not cool


A questão das drogas lícitas e ilícitas deve ser tratada como um problema de saúde pública e, dessa forma, ser integrada às políticas públicas vigentes. As estratégias de prevenção dos diversos agravos que acometem os adolescentes, aqui incluídos aqueles decorrentes do uso e abuso do álcool, devem constar dos programas de saúde pública adotados pelas três esferas de governo - municipal, estadual e federal. Conforme amplamente divulgado, o álcool é a droga lícita mais utilizada pelos adolescentes e jovens no Brasil, apesar da Lei nº 9294, de 1996, que proíbe a venda e a oferta de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos.

A viabilização dos programas de prevenção está diretamente vinculada à participação das famílias e seus filhos (promovendo o protagonismo infanto-juvenil), em todas as etapas do trabalho proposto.

Vale ressaltar que os conceitos de prevenção e promoção de saúde, muitas vezes, se confundem: na prevenção, o foco são as modificações do comportamento individual e redução dos fatores de risco, configurando o modelo de intervenção biomédico; na promoção da saúde a estratégia é a da mediação entre as pessoas e seu ambiente1. Essas duas abordagens se complementam e possibilitam, no caso da droga lícita- o álcool, o benefício das medidas propostas por ambas as estratégias de intervenção.

O adolescente, pelas características próprias da fase, como impulsividade, curiosidade, busca da identidade adulta diferenciando-se dos pais, o apoio ou a pressão do grupo de pares2 pode ser levado a se expor a situações de risco pessoal e social, como o uso abusivo do álcool resultando em acidentes, violências, morte, agravos à saúde a curto, médio e longo prazos, mau rendimento escolar e graves conflitos familiares.

Para os adolescentes, a ingestão de bebidas alcoólicas é envolta por um misto de prazer, diversão e pertencimento ao grupo de pares. É também utilizada como tentativa de superação de situações de conflitos em geral.

Para a prevenção desses eventos, são poucas as intervenções existentes, o que favorece a eficácia das campanhas publicitárias que, diariamente e com muita competência, "bombardeiam" a sociedade com mensagens explícitas do consumo de álcool ligado ao sucesso, ao erotismo, de se dar bem na vida...

Na prevenção primária, a divulgação de informações é o meio mais conhecido e utilizado, não usando o amedrontamento e sim a VALORIZAÇÃO DA VIDA como eixo central1.

Porém, é fundamental que os adolescentes saibam que o abuso do álcool causa graves danos ao organismo, sendo que no cérebro podem ocorrer diminuição da produção das células neurais e aumento da degeneração do hipocampo, que é a área do cérebro relacionada ao armazenamento da memória de longo prazo, segundo pesquisadores do Scripps Research Institute3.

Apesar do conhecimento ser fundamental, ele não é capaz de, por si só, mudar o comportamento dos adolescentes. Para tanto, têm sido usados outros modelos de prevenção primária, tais como: fortalecimento de atitudes saudáveis, promoção de atividades esportivas e culturais, modificação do ambiente e sensibilização de líderes juvenis com o objetivo de que se tornem multiplicadores junto a seus pares.

As prevenções secundária e terciária envolvem a orientação familiar no tratamento e reinserção dos adolescentes dependentes do álcool no seu meio familiar, educacional e social4.

A inexistência de uma política pública integrada contribui para a precariedade das ações e propostas visando à implementação de medidas preventivas. Mesmo assim, têm sido verificadas iniciativas dos setores da saúde e educação que ainda não conseguiram mudar o quadro epidemiológico no país relativo ao problema em questão.

Promover a criação de redes de apoio, intensificar a atenção integral à saúde do adolescente com a atuação qualificada dos pediatras e o compromisso dos gestores em estruturar os serviços para o acolhimento e atenção a essa faixa etária, insistindo na valorização da vida, podem ser os diferenciais para a prevenção do uso e abuso do álcool pelos adolescentes.


REFERÊNCIAS

1.Czeresnia D, Freitas CM (orgs.). Promoção da Saúde - conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2003.

2.Saito MI, Silva LEV (org.). Adolescência- Prevenção e Risco. São Paulo: Atheneu; 2008.

3.Scripps Research Institute. Disponível em: http://freimarcelo-venhasuperarlimites.blogspot.com.br/2010/06/o-mal-que-faz-o-alccol.html (acessado em 23 de janeiro de 2013).

4.Noto AR, Galduróz JCF. O uso de drogas psicotrópicas e a prevenção no Brasil. Ciênc Saúde Coletiva. 1999;4(1)145-51. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81231999000100012











Secretária Adjunta do Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (FNDCA).Coordenadora do Núcleo de Apoio aos Profissionais que atendem crianças e adolescentes vítimas de violência - (IFF/Fiocruz). Membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Pediatria.