Ponto de Vista - Ano 2013 - Volume 3 - Número 1
O adolescente e o álcool - essa dupla não é legal
Adolescent and alchool; this duo is not cool
A viabilização dos programas de prevenção está diretamente vinculada à participação das famílias e seus filhos (promovendo o protagonismo infanto-juvenil), em todas as etapas do trabalho proposto.
Vale ressaltar que os conceitos de prevenção e promoção de saúde, muitas vezes, se confundem: na prevenção, o foco são as modificações do comportamento individual e redução dos fatores de risco, configurando o modelo de intervenção biomédico; na promoção da saúde a estratégia é a da mediação entre as pessoas e seu ambiente1. Essas duas abordagens se complementam e possibilitam, no caso da droga lícita- o álcool, o benefício das medidas propostas por ambas as estratégias de intervenção.
O adolescente, pelas características próprias da fase, como impulsividade, curiosidade, busca da identidade adulta diferenciando-se dos pais, o apoio ou a pressão do grupo de pares2 pode ser levado a se expor a situações de risco pessoal e social, como o uso abusivo do álcool resultando em acidentes, violências, morte, agravos à saúde a curto, médio e longo prazos, mau rendimento escolar e graves conflitos familiares.
Para os adolescentes, a ingestão de bebidas alcoólicas é envolta por um misto de prazer, diversão e pertencimento ao grupo de pares. É também utilizada como tentativa de superação de situações de conflitos em geral.
Para a prevenção desses eventos, são poucas as intervenções existentes, o que favorece a eficácia das campanhas publicitárias que, diariamente e com muita competência, "bombardeiam" a sociedade com mensagens explícitas do consumo de álcool ligado ao sucesso, ao erotismo, de se dar bem na vida...
Na prevenção primária, a divulgação de informações é o meio mais conhecido e utilizado, não usando o amedrontamento e sim a VALORIZAÇÃO DA VIDA como eixo central1.
Porém, é fundamental que os adolescentes saibam que o abuso do álcool causa graves danos ao organismo, sendo que no cérebro podem ocorrer diminuição da produção das células neurais e aumento da degeneração do hipocampo, que é a área do cérebro relacionada ao armazenamento da memória de longo prazo, segundo pesquisadores do Scripps Research Institute3.
Apesar do conhecimento ser fundamental, ele não é capaz de, por si só, mudar o comportamento dos adolescentes. Para tanto, têm sido usados outros modelos de prevenção primária, tais como: fortalecimento de atitudes saudáveis, promoção de atividades esportivas e culturais, modificação do ambiente e sensibilização de líderes juvenis com o objetivo de que se tornem multiplicadores junto a seus pares.
As prevenções secundária e terciária envolvem a orientação familiar no tratamento e reinserção dos adolescentes dependentes do álcool no seu meio familiar, educacional e social4.
A inexistência de uma política pública integrada contribui para a precariedade das ações e propostas visando à implementação de medidas preventivas. Mesmo assim, têm sido verificadas iniciativas dos setores da saúde e educação que ainda não conseguiram mudar o quadro epidemiológico no país relativo ao problema em questão.
Promover a criação de redes de apoio, intensificar a atenção integral à saúde do adolescente com a atuação qualificada dos pediatras e o compromisso dos gestores em estruturar os serviços para o acolhimento e atenção a essa faixa etária, insistindo na valorização da vida, podem ser os diferenciais para a prevenção do uso e abuso do álcool pelos adolescentes.
REFERÊNCIAS
1.Czeresnia D, Freitas CM (orgs.). Promoção da Saúde - conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2003.
2.Saito MI, Silva LEV (org.). Adolescência- Prevenção e Risco. São Paulo: Atheneu; 2008.
3.Scripps Research Institute. Disponível em: http://freimarcelo-venhasuperarlimites.blogspot.com.br/2010/06/o-mal-que-faz-o-alccol.html (acessado em 23 de janeiro de 2013).
4.Noto AR, Galduróz JCF. O uso de drogas psicotrópicas e a prevenção no Brasil. Ciênc Saúde Coletiva. 1999;4(1)145-51. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81231999000100012
Secretária Adjunta do Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (FNDCA).Coordenadora do Núcleo de Apoio aos Profissionais que atendem crianças e adolescentes vítimas de violência - (IFF/Fiocruz). Membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Pediatria.