Relato de Caso
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Ano 2020 -
Volume 10 -
Número
3
Manifestações radiológicas em escolar e adolescente com COVID-19: relatos de caso
Radiological manifestations among schoolchild and adolescent patients with COVID-19: case reports
Luiz Felipe Queiroz Bichara Chicri; Bruna Mello Modugno Nunes; Maria de Fatima Pombo Sant’Anna
RESUMO
Descrição de dois pacientes pediátricos - 6 anos e 14 anos - com alterações radiológicas causadas pelo SARS-CoV-2. As principais alterações radiológicas foram: infiltrados periféricos e arredondados. Ambos foram internados e receberam alta com melhora.
Palavras-chave:
Radiografia Torácica, Pré-Escolar, Infecções por Coronavírus, Tomografia.
ABSTRACT
Cases report of two pediatric patients - 6 and 14 years - with radiological manifestations caused by SARS-CoV-2. The most important alterations were: peripheral and round shape infiltrations. Both were hospitalized and improved.
Keywords:
Chest Radiography, Preschool, Coronavirus Infections, Tomography.
INTRODUÇÃO
A infecçãopeloSARS-CoV-2 gera uma resposta inflamatória de acordo com a imunidade inata e adaptativa do hospedeiro. A carga viral exposta e o grau de lesão pulmonar também são fatores que influenciam a gravidade. Alguns estudos relatam a imaturidade da resposta imune inata e adaptativa na criança como fator de proteção, já que há pouca liberação de citocinas. No entanto, não está ainda definitivamente explicada a menor susceptibilidade à gravidade na pediatria¹.
O diagnóstico é essencialmente clínico e epidemiológico, exames complementares estão indicados em casos de instabilidade clínica e necessidade de internação2-4.
As manifestações radiológicas na fase inicial da COVID-19 podem inexistir ou serem discretas à radiografia simples, semelhantes às de outras viroses respiratórias. Apresentam infiltrados de baixa densidade e, mais tardiamente, consolidações. Quando indicada, a tomografia computadorizada de tórax (TC) permite melhor visualização das imagens. As principais alterações encontradas são: padrão em vidro fosco periférico e irregular, consolidações periféricas, às vezes de forma arredondada, sinal do halo invertido, perfusão em mosaico e opacidades irregulares e discretas; estas preferencialmente em região subpleural, em lobos inferiores e bilateralmente, acometendo mais de um lobo1-3,5.
RELATO DE CASO
Caso clínico 1
Escolar, feminino, 6 anos, com encefalopatia crônica, iniciou quadro de infecção respiratória com 4 dias de evolução, sem sibilos, mas com esforço respiratório, SaO2 = 88%, sendo realizado radiografia de tórax (Figura 1) com padrão intersticial difuso e TC com consolidação em terço médio de pulmão à direita (Figura 2) e consolidações nodulares unilaterais em periferia no mesmo pulmão (Figura 3), necessitando de internação em UTI por mais de 15 dias, com melhora do quadro e alta com melhora. Foi realizado PCR para SARS-CoV-2 com resultado positivo.
Figura 1. Radiografía de tórax: infiltrado intersticial difuso e hipotransparência hilar e paracardíaca direita.
Figura 2. TC tórax: consolidação em terço médio de pulmão direito.
Figura 3. TC tórax: consolidações nodulares periféricas em pulmão direito.
Caso clínico 2
Adolescente, masculino, 14 anos, com asma controlada iniciou quadro de dificuldade respiratória há 3 dias com sibilância leve, pouca tosse; SaO2 = 89%, sendo necessário internação em UTI, onde permaneceu durante 5 dias. TC (Figuras 4 e 5) com alterações compatíveis com infiltrado em vidro fosco, principalmente subpleurais. PCR para SARS-CoV-2 positivo. Alta com melhora.
Figura 4. TC tórax: infiltrado em vidro fosco subpleural à direita.
Figura 5. TC tórax: infiltrados em vidro fosco subpleurais à direita.
DISCUSSÃO
As alterações de imagem na SARS-CoV-2 descritas na literatura, são evidentes principalmente a partir do 4º dia da doença. As alterações tomográficas podem evoluir de maneira exponencial em crianças infectadas desde a presença de múltiplas opacidades bilaterais irregulares em “vidro fosco” e/ou infiltrados no terço médio na periferia do pulmão.
de broncograma aéreo e entre o 9º e 13º, consolidação mais densas com bandas parenquimatosas. Vale ressaltar que essas alterações podem persistir por meses, após a recuperação clínica do paciente2,4,5.
A radiografia de tórax, pode ser normal ou apresentar hipotransparência subpleural lobares uni ou bilaterais3,4.
CONCLUSÃO
As manifestações radiológicas encontradas em nossos casos, assemelham-se aos relatos de literatura mundial, que consideram que as crianças apresentem imagens parecidas com os adultos. No entanto, Zhang et al. estudaram 34 crianças com COVID-19, em 4 hospitais na China, e relataram que opacidades irregulares de alta densidade foram comuns, enquanto o padrão de vidro fosco foi raramente observado nas TC. Desta forma, evidencia-se que na faixa etária pediátrica, pela menor prevalência de casos de COVID-19 graves do que nos adultos, ainda são necessários estudos para o estabelecimento de características radiológicas mais comuns1,5.
REFERÊNCIAS
1. Sociedade Brasileira de Pediatria. COVID-19 em crianças: envolvimento respiratório [Internet]. Rio de Janeiro (RJ): SBP; 2020; [Acesso em: 2020,
Junho, 20]. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/covid-19-em-criancas-envolvimento-respiratorio/
2. Zhang C, Gu J, Chen Q, Deng N, Li J, Huang L, et al. Clinical and epidemiological characteristics of pediatric SARS-CoV-2 infections in China: a multicenter case series. PLoS Med. 2020 Jun;17(6):e1003130. DOI:
https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1003130
3. Araujo Filho JAB, Sawamura MVY, Costa NA, Cerri GG, Nomura CH. Pneumonia por COVID-19: qual o papel da imagem no diagnóstico?.
J Bras Pneumol. 2020 Mar;46(2):e20200114. DOI: https://dx.doi.org/10.36416/1806-3756/e20200114
4. Chate RC, Fonseca EKUN, Passos RBD, Teles GBS, Shoji H, Szarf G. Apresentação tomográfica da infecção pulmonar na COVID-19: experiência brasileira inicial. J Bras Pneumol. 2020 Mar/Abr;46(2):e20200121. DOI:
https://dx.doi.org/10.36416/1806-3756/e20200121
5. Farias LPG, Strabelli DG, Sawamura MVY. Pneumonia por COVID-19 e o sinal do halo invertido. J Bras Pneumol. 2020 Mar/Abr;46(2):e20200131. DOI:
https://dx.doi.org/10.36416/1806-3756/e20200131
Instituto de pediatria e puericultura Martagão Gesteira, Pneumologia pediátrica - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil
Endereço para correspondência:
Luiz Felipe Queiroz Bichara Chicri
Instituto de pediatria e puericultura
Martagão Gesteira Rua Bruno Lobo, 50 - Cidade Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro - RJ, Brasil. CEP: 21941-912
E-mail: lfchicri@gmail.com
Data de Submissão: 28/06/2020
Data de Aprovação: 01/07/2020