Artigo Original
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Ano 2021 -
Volume 11 -
Número
2
Eficácia do uso do sulfato de magnésio intravenoso no tratamento da asma aguda em crianças e adolescentes: uma revisão integrativa
Efficacy of the use of intravenous magnesium sulfate in the treatment of acute asthma in children and adolescents: an integrative review
Cláudio Nunes da Silva1; Alessandra Ribeiro Ventura Oliveira2,3,4; Flávia Nunes da-Silva5
RESUMO
O estudo tem como objetivo analisar os principais efeitos do sulfato de magnésio intravenoso para o tratamento da asma aguda grave em crianças e adolescentes. Realizou-se uma revisão integrativa utilizando-se os descritores “sulfato de magnésio”, “asma grave”, “crianças” e “adolescentes” nos idiomas inglês, português e espanhol. Os critérios de inclusão foram artigos na íntegra que retratassem a temática do uso intravenoso do sulfato de magnésio no tratamento da asma aguda grave em crianças e adolescentes, publicados no período de 2010 a 2018. O estudo foi finalizado com 6 artigos e os principais efeitos observados foram eficácia e diminuição na taxa de internação dos pacientes pediátricos, ocasionando maior benefício aos pacientes estudados, nos últimos 7 anos.
Palavras-chave:
Sulfato de magnésio, Estado Asmático, Criança, Adolescente.
ABSTRACT
The objective of this study was to analyze the main effects of intravenous magnesium sulfate for the treatment of severe acute asthma in children and adolescents. An integrative review was carried out using the descriptors “magnesium sulfate”, “severe asthma”, “children”, and “adolescents” in English, Portuguese, and Spanish. The inclusion criteria were full articles that portrayed the topic of intravenos use of magnesium sulphate in the treatment of severe acute asthma in children and adolescents, published between 2010 and 2018. The study was completed with 6 articles and the main effects observed were efficacy and decrease in the hospitalization rate of the pediatric patients, causing greater benefit to the patients studied in the last 7 years.
Keywords:
Magnesium Sulfate, Status Asthmaticus, Child, Adolescent.
INTRODUÇÃO
A prevalência da asma é alta em todo o mundo, acometendo cerca de 330 milhões de pessoas1. É a doença crônica mais frequente em pediatria, com grande morbidade e alto consumo de recursos em saúde2.
A exacerbação da asma é causa importante de mortalidade, absenteísmo escolar e laboral3. São causas comuns de necessidade de tratamento em serviços de emergências e internações. Número significativo de internações no Brasil decorrem de asma4,5.
A asma aguda grave, definida como um ataque de asma que não responde a doses repetidas de beta-agonistas e necessita admissão hospitalar, é uma emergência médica que deve ser diagnosticada e tratada rapidamente. A obstrução do fluxo aéreo durante as exacerbações pode se tornar intensa, resultando em insuficiência respiratória, o que coloca a vida do paciente em risco3,6,7.
O tratamento de primeira linha da asma cursa com broncodilatador B2 adrenérgico, brometo de ipratrópio e ação anti-inflamatória dos corticoides sistêmicos. Estes fármacos são recomendados com níveis de evidência A nos guias de prática clínica como Global Initiative for Asthma (GINA) e nos guias nacionais7. Para aqueles pacientes que não respondem à terapia padrão, o sulfato de magnésio surge como opção terapêutica3.
O magnésio participa de diversas reações enzimáticas, auxiliando na homeostase celular, papel que ainda não foi definido na asma. Provoca broncodilatação por meio da modulação do movimento do íon cálcio e inibição da liberação da acetilcolina junto aos terminais nervosos, estabiliza as células T e inibe a degranulação de mastócitos levando a redução dos mediadores da inflamação. E pode reduzir a gravidade da asma estimulando a síntese do óxido nítrico e prostaciclina8,9.
O objetivo deste estudo é analisar a eficácia do sulfato de magnésio venoso para o tratamento da asma aguda grave em crianças e adolescentes em emergências hospitalares.
MÉTODOS
Estratégias de busca
Estudo realizado por meio de levantamento bibliográfico nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem On-line (MEDLINE), Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Cochrane Library. Foram utilizados, como critérios de busca dos artigos, os seguintes descritores e suas combinações nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola respectivamente: sulfato de magnésio, asma grave, crianças e adolescentes; “magnesium sulfate”, “severe asthma”, “children” and “teenage”; “sulfato de magnesio”, “asma grave”, “niños” e “adolescentes”. Foram identificados 20 artigos na MEDLINE, 1 na Cochrane, 3 na SciELO e 4 na LILACS, totalizando 28. Os critérios de inclusão foram: artigos publicados em português, inglês e espanhol; artigos na íntegra que retratassem a temática do uso intravenoso do sulfato de magnésio no tratamento da asma aguda grave em crianças e adolescentes, publicados no período de 2010 a 2018.
Análise e descrição dos artigos
Foram avaliados títulos e resumos dos 28 artigos identificados, com vistas à inclusão entre os que seriam lidos na íntegra. O critério de inclusão para leitura na íntegra foi a existência da relação do uso do sulfato de magnésio endovenoso no tratamento de asma aguda grave em crianças e adolescentes. Foram selecionados 19 artigos para serem lidos integralmente, mas onze foram excluídos, sendo quatro por não ter sido possível o acesso ao texto na íntegra e sete por não atenderem aos critérios de inclusão estabelecidos para a pesquisa. O estudo foi então realizado com 6 artigos, estabelecendo-se entre os avaliadores que, na existência de alguma discordância quanto à seleção do artigo, este seria analisado por um terceiro revisor, profissional de área afim ao tema do estudo.
A análise e síntese dos dados obtidos foram realizadas de forma descritiva, possibilitando observar, descrever e classificar os dados, com o intuito de reunir o conhecimento produzido sobre o uso intravenoso do sulfato de magnésio no tratamento da asma aguda grave em crianças e adolescentes.
Para a extração dos dados dos artigos selecionados, utilizou-se um instrumento previamente elaborado e adaptado por Ursi10, em 2005, capaz de assegurar que a totalidade dos dados relevantes fosse extraída, que o risco de erros na transcrição dos dados fosse mínimo e que houvesse precisão na checagem das informações. Os dados incluíram: definição dos sujeitos, metodologia, tamanho da amostra, mensuração de variáveis, método de análise e conceitos embasadores empregados. O Quadro 1 representa o instrumento utilizado10. A organização das informações dos artigos foi realizada por meio de uma síntese das principais informações de cada estudo em uma tabela contendo os seguintes tópicos: procedência, título do artigo, autores, periódico, considerações e temática (quadro 2).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao avaliar os seis artigos incluídos no estudo sobre o uso do sulfato de magnésio endovenoso na crise de asma grave, verificou-se que a maioria aborda a relação do uso da substância com o impacto no tempo de internação hospitalar e a necessidade de ventilação mecânica invasiva.
No estudo sul-americano, realizado por quantitativa experimental em pacientes com asma aguda grave, na emergência de um hospital em Buenos Aires, foram analisados 143 pacientes randomizados em 2 grupos caso e controle. O grupo de intervenção incluiu 76 pacientes que receberam sulfato de magnésio dentro da primeira hora de tratamento e o grupo controle incluiu 67 pacientes tratados com diretriz padrão - 33% (n=22). Dos pacientes do grupo controle 33% precisaram de suporte ventilatório mecânico, quando comparado com os que receberam o tratamento com sulfato de magnésio apenas 5% dos pacientes necessitaram de ventilação mecânica (p=0,001). Em relação ao tempo de internação em dias, dos pacientes do grupo que recebeu o tratamento variou de 3 a 12 dias com média de 7 dias, enquanto a do grupo controle variou de 14 a 29 dias com média de 19 dias. Os autores concluíram que, administração de sulfato de magnésio intravenosa na primeira hora de internação do paciente foi associada a uma diminuição na proporção de crianças que necessitaram de assistência ventilatória mecânica e diminuiu o tempo de internação11.
De acordo com os resultados da análise de um estudo norte-americano, onde 53 publicações foram analisadas por meio de revisão bibliográfica, os autores concluíram que o papel do sulfato de magnésio é importante como terapia adjuvante no manejo inicial da asma, ao passo que os agonistas adrenérgicos ß2 e corticosteroides continuam sendo o manejo principal. O uso do sulfato de magnésio na asma grave reduz as taxas de internação e tem bom custo-benefício12.
Em estudo feito através de revisão da literatura de 21 publicações, mostrou-se que o sulfato de magnésio venoso foi eficaz na população pediátrica com asma aguda moderada e grave, em resposta ao tratamento inicial, na dosagem de 50mg/kg/dose (máx. 2g/dose). Os efeitos adversos relatados na literatura foram raros e as contraindicações descritas foram insuficiência renal, miastenia gravis, bloqueio cardíaco e lesões miocárdicas13.
Em um estudo realizado entre os anos 2005 a 2013, totalizando 87 estudos, os autores destacam o uso do sulfato de magnésio relacionado à variável internação, subjetividade e peculiaridades clinicas que engloba cada paciente, principalmente ambiente social e outras patologias de base associada, e não necessariamente apenas a gravidade da crise. Existe correlação entre o uso do sulfato de magnésio na diminuição da necessidade de ventilação mecânica, na diminuição das internações e no tempo de permanência na unidade de terapia intensiva14.
No estudo canadense, onde foi feita uma abordagem quantitativa, avaliou-se por meio de questionário investigativo, médicos com formação em medicina de emergência pediátrica, com pelo ou menos 10 anos de prática, que tinham experiência no uso do sulfato de magnésio na crise de asma grave ou não. Foi obtida uma amostra de 186 profissionais que colaboraram com o estudo nos EUA e Canadá, onde os autores destacaram que o uso intravenoso do sulfato de magnésio é pouco usado entre os entrevistados no tratamento das crianças com asma aguda grave, apesar da maioria concordar que a substância é eficaz no tratamento das crises, concluíram ainda que, não desempenha um papel importante na redução das hospitalizações, porém, reduz as taxas de internação nas unidades de terapia intensiva e gravidade da doença15.
Uma revisão sistemática realizada em 2012, reunião cinco estudos, com amostra de 182 pacientes. Os estudos incluídos foram em geral de baixo risco de viés. Os autores concluíram que o uso endovenoso do sulfato de magnésio pode reduzir a necessidade de hospitalização em crianças e adolescentes com exacerbações moderadas a graves da asma, mas as evidências são extremamente limitadas pelo número e tamanho dos estudos. Poucos efeitos colaterais do tratamento foram relatados, mas os dados foram extremamente limitados16.
CONCLUSÃO
Reconhece-se então, algumas limitações, como a pequena quantidade de estudos incluídos para o presente estudo, o que certamente enriqueceria o resultado. Os resultados encontrados podem ser melhor explorados em futuros estudos.
O uso rotineiro do sulfato de magnésio por via endovenosa nas emergências pediátricas, pode ser recomendado, por ter baixo custo e trazer alguns benefícios quando utilizado como medicação coadjuvante nos casos da asma aguda grave.
REFERÊNCIAS
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1. Hospital Regional de Ceilândia, R2 de Residência Médica em Pediatria - Ceilândia - Distrito Federal - Brasil
2. Hospital Regional de Ceilândia, Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica - HRC - Ceilândia - Distrito Federal - Brasil
3. Universidade Católica de Brasília, Mestre em Gerontologia - Brasília - Distrito Federal - Brasil
4. Universidade de Brasília, Doutora em Ciências e Tecnologias em Saúde - Brasília - Distrito Federal - Brasil
5. Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Medicina - Goiânia - Goiás - Brasil
Endereço para correspondência:
Cláudio Nunes da Silva
Hospital Regional de Ceilândia
QNM 27 Área Especial 1, QNM 28, Taguatinga
Brasília - DF. Brasil. CEP: 72215-270
E-mail: claudiopalmeiropolis@gmail.com
Data de Submissão: 25/06/2019
Data de Aprovação: 30/07/2019