Resenha - Ano 2017 - Volume 7 - Número 1
Resenha
Opinion
Reseña
A vitamina D é atualmente considerada um hormônio. Tem papel fundamental no metabolismo do cálcio e do fósforo, nos quais suas ações são de longa data conhecidas. Nas últimas décadas, outras ações biológicas têm sido estudadas, incluindo a inibição da proliferação celular, a indução da diferenciação celular, a inibição da angiogênese, e a estimulação da produção de insulina, dentre outras.
Muitos estudos têm sido realizados a respeito dos benefícios não calcêmicos da vitamina como prevenção de doença cardiovascular, mas todos, até a presente data, são inconclusivos.
Por outro lado, as pesquisas têm apontado fortes evidências que respaldam as boas práticas voltadas para a prevenção e o tratamento da deficiência da vitamina D no que se refere ao metabolismo ósseo. Seguindo estas evidências, recentemente o Departamento Científico de Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria passou a recomendar a suplementação profilática de vitamina D a partir dos primeiros dias de vida para os lactentes em aleitamento materno exclusivo e para aqueles que, estando em uso de fórmula láctea fortificada com vitamina D, estejam recebendo menos que 1000 mL ao dia, independentemente da região do País. O presente artigo é uma das referências a que se reporta o Departamento Científico de Nutrologia da SBP para tal recomendação.
Cientes de que a deficiência desta vitamina é comum em todos os grupos etários, e de que poucos alimentos contêm vitamina D, e de que esta precisa ser ativada na pele, os médicos têm com frequência solicitado indiscriminadamente sua dosagem em exames de rotina.
Soma-se a isto o fato de que, visando à prevenção do câncer de pele, muitas crianças usam desde cedo filtro solar, ou ainda não se expõem ao Sol, mesmo em regiões ensolaradas do Brasil, ou por não frequentarem ambientes externos, ou ainda devido à poluição atmosférica nos centros urbanos em que vivem.
Quando indicada, a dosagem da vitamina D deve ser da forma 25(OH)D. No entanto, os ensaios clínicos disponíveis são sujeitos à variabilidade, o que dificulta que se estabeleça um ponto de corte que reflita de forma ideal o status de deficiência do hormônio.
Neste contexto, a Endocrine Society publicou em 2011 o artigo Evaluation, treatment, and prevention of vitamin D deficiency: an Endocrine Society Clinical Practice Guideline, baseado em evidências científicas.
O guideline dá destaque para as indicações do rastreamento da deficiência - apenas em grupos de risco - e contraindica o rastreamento populacional ou em indivíduos que não são de risco.
O artigo é leitura indispensável para os pediatras em busca de uma visão crítica, pois, baseado em evidências, o artigo também traz uma bibliografia extensa que pode ser consultada pelos que desejarem se aprofundar no assunto. Sendo assim, é leitura obrigatória para o residente de Pediatria.
1. Pediatra, R3 do Programa de Residência Médica (PRM) em Endocrinologia Pediátrica do Hospital Universitário da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE-UERJ)
2. Supervisora do PRM em Endocrinologia Pediátrica do HUPE-UERJ, professora adjunta do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da UERJ, coordenadora do Setor de Endocrinologia Pediátrica da Unidade Docente Assistencial de Endocrinologia do HUPE-UERJ